terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Amália Rodrigues - Do Folclore às Marchas - Século XX


Amália da Piedade Rodrigues nasceu em Lisboa, filha de pais naturais da Beira Baixa, radicados em Lisboa. A data certa do seu nascimento é desconhecida: em documentos oficiais nasceu a 23 de Julho, mas Amália sempre considerou ter nascido a 1 de Julho de 1920.
Amália estreia-se no Retiro da Severa, em 1939, acompanhada por Armandinho, Jaime Santos, José Marques, Santos Moreira, Abel Negrão e Alberto Correia, interpretando três fados. Num espaço de poucos meses, passa também a actuar no Solar da Alegria e no Café Luso. Amália torna-se rapidamente o nome mais famoso de todos os ídolos do fado.
Em 1976 são editados "Amália no Canecão", álbum ao vivo que regista parte do show de Amália naquele palco brasileiro em 1973, e "Cantigas da Boa Gente", compilação de material lançado anteriormente em singles e Eps. Também neste ano canta no Théâtre de Champs Elysées, em Paris. É publicado pela UNESCO o disco "Le cadeau de la vie", onde figura ao lado de Maria Callas, John Lennon, Yehudin Menuhim, Aldo Ciccolini, Gyorgy Cziffra e Daniel Barenboim.
Amália faleceu a 6 de Outubro de 1999 com 79 anos.

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3 comentários:

  1. Amália é a quinta filha de uma prole de nove irmãos. Vicente e Filipe, os mais velhos. A mortalidade infantil é grande e a pneumónica alastra: José e António, ainda meninos, morrem. Depois de Amália nasceram mais quatro meninas: Celeste, mais nova dois anos; Aninhas que morre aos dezasseis anos; Maria da Glória que logo morre e por fim, Maria Odete.
    Amália tem quase nove anos e a avó, analfabeta, manda-a para a escola da Câmara, na Tapada da Ajuda. No caminho come figos de piteira e rouba florinhas para levar à professora. Gosta tanto da escola que nada a impede de ir, nem mesmo a sua bronquite asmática. Em casa é que não quer ficar! Adora a escola onde o tempo é dela e da sua fantasia. Ali ninguém a manda limpar o pó, nem lavar a loiça ou esfregar o chão.

    Aprende as lições de ouvido e chamam-lhe «sabichona». Mas uma coisa não lhe entra na cabeça: Geografia! A professora insiste para que ela compre o livro – o seu primeiro livro. Quando mais tarde é obrigada a comprar outro, a avó perguntar-lhe á: «Aquele ainda está novo, para que queres outro?».

    Na escola da Câmara é obrigatória a bata branca por cima do vestido. Lá vai Amália a caminho da escola e, por entre o arvoredo, o cântico dos pássaros dilata o espaço. Encontra uma rapariga toda rota, ainda mais pobre do que ela. Tira o vestido que traz por baixo da bata e dá-lho. Quando chega a casa, a avó diz-lhe para tirar a bata para lavar. Finge um ar admirado e atrapalhada diz: «Ai! Perdi o vestido!». «Olha a fidalga, a dar vestidos!» exclama a avó entre tabefes.

    Faz o exame de instrução primária e, como todas as meninas, leva o seu vestido novo que lhe fica muito bem. É de crepe-da-china azul turquesa às pregas, feito pela primeira vez numa modista. Depois do exame nunca mais o há-de vestir porque ficará a aguardar uma outra ocasião importante… Entretanto cresce. Tem doze anos e para ela a escola acabou!

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  2. Como é hábito da gente pobre, grandes e pequenos contribuem para o sustento da casa. Aprender um ofício, impõe-se. Ofício de bordadeira, escolhe. Ganha dois escudos por dia. O dinheiro não chega para o bilhete do eléctrico. De manhã cedo galga ruas e ruelas a pé, da Ajuda às Escadinhas do Duque, perto do Chiado. Dias e meses a passar a ferro... Bordar? Nicles! Como nada aprende, a avó não quer que ela continue. Uma tia é encarregada numa fábrica de bolos e rebuçados, na Pampulha. Embrulham-se rebuçados, descascam-se marmelos e outras frutas. É preciso gente. Amália ganha agora seis escudos por dia e quanto mais descascar e embrulhar, mais ganha.

    Fonte:
    http://www.vidaslusofonas.pt/amalia_rodrigues.htm

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  3. «TROVA DO VENTO QUE PASSA»
    Por uns - compreendida , por outros - apupada, mas a ninguém indiferente. Decide cantar o fado-canção. Encontra uma nova postura de cantar o fado, mais desabrida. Canta com entusiasmo os fados de Frederico Valério, Raul Ferrão e de Frederico de Freitas «com uma estrutura musical mais complexa, com refrão e coplas, por oposição à simplicidade estrófica dos velhos fados castiços». (Rui V. Nery)

    Amália dá ao fado um novo fulgor. Canta o repertório tradicional de uma forma diferente «subordinando o ritmo regular da melodia ao sabor da dicção poética, com suspensões inesperadas e acrescenta ornamentos novos, que foi a buscar às cantigas da Beira Baixa», escreve o mesmo musicólogo. Ultrapassa todas as fronteiras e preconceitos culturais. Amália tem a arte de sincretizar o que é urbano e rural, o que é popular e erudito através de uma voz de timbre único, prenhe de emoção sensual e musical.

    Os poetas Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira passam a escrever para ela. Canta os grandes poetas da língua portuguesa, dos trovadores a Camões, de Bocage aos poetas contemporâneos guiada pela sua grande intuição. Conhece o compositor luso-francês Alain Oulmain: «Um dia estava num acampamento e levaram-me Alain Oulmain, que tinha uma música a pensar em mim, o Vagamundo. Fui ouvir e gostei. Seguiram-se outras e fui contra a maré das pessoas que estavam ao pé de mim, que achavam aquilo muito complicado. Os guitarristas de facto, tiveram de aprender aquelas harmonias novas que o Alain trazia, que não tinham nada a ver com o fado porque o fado é pobre em harmonia. O Alain nasceu no Dafundo, nasceu em Portugal, apesar de ser francês. Tem uma sensibilidade grande de artista, foi criado num certo ambiente. Depois, ouviu-me cantar, sentiu que a minha sensibilidade estava muito perto da sua. Dá-me a possibilidade de voar.»

    Amália tem um humor marcadamente lisboeta, construído em Alcântara, bairro predominantemente operário onde o humor corrosivo é cultivado quase como uma forma de vida. Brinca com ela própria, com o seu próprio talento. Sobre a sua primeira aparição na televisão portuguesa em 1958 conta ela ao seu biógrafo: «Andou sempre uma mosca à minha volta. Cantou melhor a mosca do que eu. Quando havia lá moscas, e acho que havia sempre, as pessoas disfarçavam. Eu, como havia a mosca, sacudi-a. E depois só se falava na mosca». Perante situações complicadas constrói a sua coragem na capacidade da resposta pronta. Quando alguém lhe fala sobre as condecorações e outras honrarias que recebera durante a ditadura, responde: «Por mim, não me levantava do meu cadeirão. Não passei pela vida, a vida é que passou por mim».

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